Cruzeiro ou Padrão dos Centenários, de Montalvão – memória descritiva
1. Contextualização
Em 1940, vivendo-se na Europa os horrores da II Guerra Mundial, apesar de ainda estar no seu início e, por conseguinte, longe de se imaginar a dimensão de incomensurável catástrofe que viria a ter, em Portugal, o Estado Novo encontrava-se na sua plenitude e astutamente afastado da guerra.
Como afirmação e consolidação da imagem nacionalista e de domínio colonial, com as pretensões imperialistas que o caraterizou, surgiu nas hostes do regime sustentado na Constituição de 1933, a ideia de organizar um grande evento, no seguimento, aliás, e com a experiência adquirida pela participação de Portugal nas grandes Exposições Internacionais de Paris (1937), Nova Iorque e S. Francisco (1939). 1
Por coincidência da cronologia histórica, em 1940, a Nação Portuguesa perfazia oito séculos, desde a data da sua Fundação, em 1140 – data em que D. Afonso Henriques utilizou pela primeira vez o título de Rei de Portugal -, e a Independência readquirida pelos portugueses, em 1640 - após a governação filipina ao longo de sessenta anos -, fazia, portanto, trezentos anos, de Restauração.2
Nada mais propício para que o Governo da Nação organizasse uma retumbante e conjugada celebração daquela feliz coincidência, propiciando-lhe a exaltação e a propagação da orientação política prevalecente, tanto para consumo interno, como para afirmação no exterior, já que a questão da independência e da proteção das colónias era, não só naquela época, como ao longo de toda a vigência do Estado Novo uma questão ultra-fundamental e "de per si" inegociável. Foi assim que através de uma Nota Oficiosa de Março de 1938, emitida pelo Presidente do Conselho de Ministros – Dr. António de Oliveira Salazar -, foi determinada a realização da Grande Exposição do Mundo Português, nela se estabelecendo concomitantemente o minucioso programa das comemorações.
Exposição do Mundo Português – panorâmicas3
Como se vê, nas preocupações do governo e dos ideólogos do regime, a organização de uma tal Exposição ia muito para além da realização de um grande certame, meramente com intuitos comerciais ou turísticos, como os que atualmente se organizam com relativa frequência.
…” Mas a afirmação do próprio regime tinha na sua concepção, um fundo histórico fundamental, de perspectiva claramente historicista, como demonstra António Ferro ao dizer que:
…1140 explica 1640, como 1640 prepara 1940. São três anos sagrados da nossa história, o ano do crescimento, o ano do renascimento e o ano apoteótico do ressurgimento! O que vamos festejar não é, portanto, apenas, o Portugal de ontem mas o de hoje, não é apenas o Portugal de D. Afonso Henriques e D. João IV, mas o Portugal de Carmona e Salazar (…) agora sim, porque o passado já não pesa tanto sobre o nosso presente, porque o passado e presente se medem e igualam” (sic) 4.
A escolha simbólica de Belém para montar os múltiplos e grandiosos pavilhões, frente ao Mosteiro dos Jerónimos e abrangendo uma vasta área, pretendia sublinhar a relação de Portugal com o rio Tejo, na medida em que foi a partir dele e justamente da zona de Belém que partiram as naus levando os portugueses pelos oceanos dentro, à procura de novos mundos e estranhas gentes, difundindo a Fé e alargando o Império Português. Portanto, tudo se conjugava e dava sentido a tamanha comemoração, a maior e a única, diga-se, durante quase sessenta anos, até à realização da Exposição Internacional de Lisboa, em 1998.
Derivado da dimensão do empreendimento e das festividades associadas, tornou-se forçosa a mobilização de diversificados organismos do Estado, tanto em termos organizativos, como, não menos importante e necessário, de difusão pelo país afora, como foi oficialmente determinado:
“Procurará a Comissão Executiva, a que presido, assegurar -se da colaboração das Repartições do Estado e dos corpos administrativos; da Igreja, a cuja sombra tutelar se criou a nação e se dilatou o Império; das Universidades…”(sic) 5.
Face ao papel que a Igreja, em sentido lato, desempenhava na altura em todo o país e à relação que o Estado passou a ter com ela, após a assinatura no Vaticano, em 7 de Maio de 1940, da Concordata e do Acordo Missionário - que supriu todas as clivagens advenientes do laicismo da I República e, mais remotamente, do liberalismo e da época pombalina -, natural seria que aquela fosse igualmente solicitada a participar na montagem e difusão das Comemorações Centenárias, nomeadamente na celebração das missas dominicais e outras.
“A Igreja, respondendo ao apelo das autoridades, propôs associar -se:
…” oficialmente às comemorações centenárias, ordenamos que desde o princípio até ao fim destas, todos os reverendos sacerdotes de todo o império português e do Padroado dêem na Santa Missa a oração pró gratiarum actione, que se encontra no fim do missal, na competente missa votiva. Conhecido como é o programa oficial das comemorações, recomendamos aos nossos prezados cooperadores, em especial aos reverendos Párocos, que de harmonia com as autoridades ou comissões locais prestem a sua cooperação patriótica, para que as comemorações correspondam aos altos feitos que se comemoram” (sic) 6.
Para além das inúmeras celebrações religiosas em vários pontos do país, com enfoque para a capital e Guimarães, o papel desempenhado pela Igreja e seus agentes, fora desse contexto, não teve expressão relevante.
Porém, estando o fulcro das comemorações muito centrado na capital do Império, um tal desejo de grande exaltação nacionalista tinha o grande óbice (para os desígnios do regime, é claro), de, por tal facto, não poder levar essa mensagem até às populações mais ou menos recônditas, tanto do Continente e Ilhas, como das então apelidadas Províncias Ultramarinas ou Colónias. Por outro lado, não obstante a preocupação de proporcionar a visita à Exposição pelas populações provincianas, através da facilitação de transportes organizados, tal apenas poderia contemplar um número relativamente reduzido e pré-selecionado de pessoas pelas forças vivas locais, deixando a maioria de fora.
O país encontrava-se num estado de desenvolvimento precário e, apesar de afastados da guerra, sofria colateralmente os seus efeitos, nomeadamente, de fortes restrições económicas, pelo que as populações também não dispunham das condições necessárias para se deslocarem autonomamente, ficando assim fora do alvo propagandístico do governo. Por conseguinte, havia que colmatar essa grave lacuna comunicacional, disseminando por todo o território continental, insular e ultramarino, os elementos materiais, suscetíveis de por todos serem vistos e admirados, perpetuando tão grandioso momento e assinalando o espírito de exaltação nacionalista. É a partir dessa necessidade que surge a disseminação pelo território português de cruzeiros ou padrões evocativos dos centenários, quais colunas graníticas ornamentadas, como se descreve no ponto seguinte, no referente a Montalvão.
2. Cruzeiro ou Padrão dos Centenários, em Montalvão – memória descritiva
Comecemos desde já por clarificar que a designação deste pequeno monumento evocativo, não obedece, tanto quanto se sabe, a uma rígida designação oficial. Por isso, nas localidades onde o mesmo existe encontram-se indistintamente as designações de Cruzeiro7 do Duplo Centenário ou dos Centenários, Padrão do Duplo Centenário ou dos Centenários, um pouco em função do que a gíria local veio a adotar e a consolidar, ao longo dos cerca de setenta anos decorridos, desde que foram erigidos. Em Montalvão, está mais banalizado o termo de cruzeiro e não raras vezes, erroneamente, o de pelourinho, o qual importa corrigir.8
Juntando, por isso, a designação mais popularizada, ao facto de estar localizado num dos adros da Igreja Matriz, adotaremos ao longo deste texto o termo Cruzeiro dos Centenários, dado que na verdade, o que assinalam, com referência a 1940, não é tão somente um duplo centenário, mas duas datas (1140 e 1640) pluricentenárias (oito séculos no caso da primeira e três em relação à segunda).9
Passando então à descrição do nosso Cruzeiro - evocativo dos Centenários -, trata-se de uma coluna, assente em bases de formato quadrangular constituídas por três níveis, com áreas sucessivamente menores, formando degraus (v. foto 1). A base inferior tem de lado 205 cm; a intermédia 150 cm e a superior (onde assenta a coluna propriamente dita), 90 cm.
Todos os elementos estão construídos em pedra granítica, eventualmente proveniente da região, mais precisamente de Gáfete - o granito amarelo de Gáfete -, com exceção da Cruz agora recolocada, cuja matéria-prima é proveniente do Vimieiro, na medida em que o atual granito de Gáfete apresenta um tom rosado, contrastando inconvenientemente com a cor dos restantes elementos. Na verdade, a pedra do Vimieiro, depois de muito se procurar, é a que mais se aproxima do que existia.
A coluna, tal como qualquer monumento semelhante, é formada pelos três componentes primordiais: o vaso, o fuste e o capitel. A estes elementos acrescem a esfera armilar sobre o capitel e a Cruz de Cristo sobreposta à esfera, culminado assim o Cruzeiro.
O vaso tem a forma de um paralelepípedo de base quadrangular, com as dimensões: altura: 56 cm; lado da base: 39 cm (medidas aproximadas). Na face voltada a nascente (lado do Castelo) apresenta a única inscrição gravada neste elemento (v. foto 2): “III Restauração de Portugal”, avivada recentemente a negro.
O fuste é formado igualmente por um prisma de face retangular, com a altura de 210 cm e secção quadrada, de lado igual a 29 cm. No topo do fuste e imediatamente abaixo do capitel (v. foto 3), mais precisamente na face voltada a poente, mostra uma figura, esculpida em alto relevo, representando a folha do acanto e abaixo desta, a inscrição “1940”, avivada a negro.
A folha do acanto está profusamente ligada à arquitetura sacra monumental, nomeadamente ornamentando ou formando mesmo o capitel de colunas coríntias11 e compósitas.12
Na natureza é uma folha verde e espinhosa, também conhecida por “erva-gigante”13, oriunda de terrenos húmidos e pedregosos do sul da Europa, mediterrânica, explicando assim, portanto, a utilização simbólica pelos gregos e outros povos da região.
Está associada às virtudes da beleza, da pureza de caráter, da perfeição moral e da honestidade. Talvez por isso, e pelo facto de, na realidade, se apresentar em grandes dimensões, com recortes bem delineados e simétricos, por conseguinte ornamental, tornou-se o distintivo, desde a Antiguidade Clássica, de altas patentes militares.
Por outro lado, pela associação que lhe é feita àquelas virtudes, percebe-se bem a intenção do Estado Novo ao procurar sublinhar tais valores no nosso simbólico monumento, quiçá noutros do mesmo género, dado que não podemos ignorar que se encontrava praticamente no seu dealbar e, por conseguinte, com absoluta necessidade de afirmação política e propagação dos valores e da moral cristã, em que se apoiava.
Como terapia, a folha do acanto pode ser utilizada para vários fins medicinais.
O capitel consiste num cubo, de lado igual a 44 cm, cujas faces laterais apresentam as seguintes figuras:
- Do lado norte, apresenta a Cruz da Ordem Militar de Avis14 (v.foto 4), que chegou a integrar a bandeira nacional, cujos extremos são formados pela flor de lis. Nas representações coloridas, este símbolo apresenta-se na cor verde e a sua configuração assemelhava-se à Cruz da Ordem Militar de Calatrava.14
- Na face oposta àquela (lado sul), está representada a Ordem Militar de Cristo (v.foto 5), através da sua caraterística Cruz, a qual nos surge igualmente no topo do monumento, a três dimensões, como mais adiante descreveremos.
- Do lado poente, podemos ver o escudo português (v. foto 6) – o principal símbolo português - que sobreposto à esfera armilar, compõe o brasão de armas da Bandeira Portuguesa.
Formam o escudo português os seguintes elementos, de acordo com a versão a cores e não estritamente a que se encontra no cruzeiro:
i) Ao centro, sobre um fundo branco, encontram-se cinco pequenos escudos (ou escudetes) azuis, dispostos em cruz, significando a vitória sobre os cinco reis mouros;
ii) Em cada escudete estão figurados cinco besantes, em prata, e que representam as cinco chagas de Jesus Cristo15. Considerando os do escudete central como o dobro dos restantes, a soma de todos eles corresponde ao número trinta, tendo por isso o duplo significado de simbolizar os trinta dinheiros ou trinta moedas de prata que Judas recebeu dos romanos pela traição a Cristo;16
iii) Na bordadura do escudo, estão figurados sete castelos, simbolizando justamente o mesmo número de vitórias alcançadas por D. Afonso III, “o Bolonhês”, sobre os mouros, no âmbito da conquista do Algarve.17
- Na face do cubo /capitel, voltada a nascente (v. foto 7), estão gravadas na pedra e avivadas recentemente a negro, as seguintes datas:
- 1140 – esta data corresponde à primeira autoproclamação formal, como Rei de Portugal, do até aí Conde D. Afonso, ao se intitular"Ego Alfonsus portugalensium Rex”.
Já antes, porém, após a retumbante vitória na Batalha de Ourique, em 113918 (como explicado anteriormente) D. Afonso Henriques se autoproclamara Rei de Portugal, mas o reconhecimento dessa condição pelo Reino de Leão e Castela só aconteceu em 1143, através do Tratado de Zamora, por especial “benevolência” e, sobretudo, ambição do rei Afonso VII, em se tornar imperador de toda a Hispânia e, por conseguinte, necessitar de (novos) reinos seus vassalos.
Não obstante as várias doações concedidas à Igreja por D. Afonso Henriques e de ter fundado inúmeros conventos, apenas em 1179 o poder papal reconheceu o reino de Portugal como país independente, através da bula pontifícia do papa Alexandre III, "Manifestis Probatum".
Em resumo, numa opinião livre, pode admitir-se que a escolha do ano de 1140 para as comemorações centenárias, não tendo uma relevância histórica maior que as outras datas e eventos mencionados, terá sido escolhida por mera associação às outras datas celebradas (1640 e 1940), como explicado a seguir:
- 1640 – corresponde e celebra o ano da restauração de Portugal, após sessenta anos de governação filipina, por ausência de monarca português, sucessor de D. Sebastião, após o desaparecimento deste na batalha de Alcácer-Quibir e também de seu tio o Cardeal D. Henrique, que o substitui como Regente do reino, sem deixar igualmente descendência, como bem se compreende.
As regras da sucessão dinástica impuseram assim a nomeação de Filipe II de Espanha como rei de Portugal, ficando para a História Portuguesa como Filipe I, sucedendo-lhe ao longo da vigência filipina, D.Filipe II (III de Espanha) e D. Filipe III (IV de Espanha), com o qual findou compulsivamente essa época, por força da rebelião de nobres e populares portugueses, em 1640, após o que o Duque de Bragança, que liderou a revolta, foi aclamado Rei, como D. João IV.
- 194019 - é um ano de grande exaltação nacionalista e de afirmação do Estado Novo, formalmente resultante da Constituição de 1933. Voltando a citar António Ferro (o ideólogo da comunicação do regime), 1940 …” é o ano apoteótico do ressurgimento” …, o que sintetiza bem o espírito prevalecente.
A par da realização nesse ano da Grande Exposição do Mundo Português,20 a coincidência das datas centenárias com enorme relevância histórica para Portugal, criou as condições necessárias para materializar tal exaltação patriótica e desígnios imperiais colonialistas sob diversas formas, como é exemplo o Cruzeiro dos Centenários, erigido em Montalvão, por essa altura.
-Esfera armilar21 – representada pela esfera situada sobre o capitel da coluna (v. foto 8), suportando por sua vez a representação da Cruz de Cristo, que culmina o conjunto. Encontra-se, infelizmente, já muito desgastada pela erosão do tempo, e com fissuras, mas ainda com alguns elementos (as armilas ou aros ) que a caraterizam algo visíveis.
Tal como o extremo inferior do fuste, em tempos não muito remotos, a esfera foi objeto de uma intervenção preventiva por profissional especializado, cujas marcas são, aliás, bem visíveis.
A esfera remanescente apresenta o diâmetro (irregular) de 38 cm e é representativa, neste caso específico, do Império Colonial português, à época um vastíssimo território continental, insular e ultramarino.
Como se pode ver numa das fotos supra das panorâmicas, a esfera armilar, de enormes proporções, ocupa um intencional lugar de destaque.
- Cruz de Cristo – a figura cimeira do conjunto erigido, sobreposta à esfera (v. foto 9), como já mencionado, representa a Cruz de Cristo, símbolo da antiga Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo (Ordo Militiae Jesu Christo)22, ou simplesmente Ordem de Cristo, atualmente uma Ordem meramente Honorífica, tal como a Ordem de Avis já referida e outras. Por inerência o Mestre da Ordem de Avis é o Presidente da República.
A atual Cruz foi reposta em 22 / 04 /2017, data que se encontra gravada na sua face superior (cf. foto 10), dado o cruzeiro se encontrar desprovido deste seu importante símbolo, desde há mais de vinte anos.
Mediante as indicações que lhe foram fornecidas, foi seu executante o Sr. Paulo Escarameia da empresa “Martinho & Duarte”, de Portalegre, e apresenta as seguintes caraterísticas:
- Matéria-prima: granito amarelo Vimieiro, com acabamento a pico fino (jato de areia) para se assemelhar aos restantes elementos mais antigos, desgastados pela erosão;
- Dimensões: 42 x 42 x 10 cm
Merece especial destaque a cruz gravada (cruz grega) ao centro do corpo principal, ela própria com um simbolismo histórico dentro da representação principal. Essa cruz central, que na figuração colorida é representada na cor branca, significa a inocência23 dos monges templários portugueses, em relação ao que ao que se atribuía àos templários em geral. Muitos dos monges-guerreiros templários portugueses, incluindo o seu último Mestre, o nosso D. Vasco Fernandes, transitaram para a Ordem de Cristo, como simples freis, após a extinção da Ordem Templária.
Luís Gonçalves Gomes
13 maio 201724
Bibliografia / fontes de informação:
1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Exposi%C3%A7%C3%A3o_do_Mundo_Portugu%C3%AAs; in Génese.
2 Biblioteca de Arte – Fundação Calouste Gulbenkian; Exposição do Mundo Português; Colecção Estúdio Mário Novais e Horácio Novais. y
3Pesquisa: https://www.google.pt/search?q=exposi%C3%A7%C3%A3o+do+Mundo+Portugu%C3%AAs&oq=exposi%C3%A7%C3%A3o+do+Mundo+Portugu%C3%AAs&aqs=chrome.69i57j69i59l2j0l3.20109j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8
4 http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8003/1/LS_024_RBrito.pdf; Lusitania Sacra. 24 (julho-dezembro 2011) 263-276; A presença e o papel da religião nas Comemorações Centenárias de 1940 R I C A R D O D E B R I T O Mestrando na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; p. 267, citando António Ferro, «Carta aberta aos Portugueses» in Revista dos Centenários, Lisboa, Edição da Comissão Nacional dos Centenários, SPN, Ano I, Nº 1, Janeiro de 1939, p. 19.
5 Idem, citando Júlio Dantas, «Alocução aos Portugueses», in Revista dos Centenários, op. cit, p. 16. 13 Comemorações Centenárias. Programa Oficial, 1940, Lisboa, Comissão Executiva dos Centenários, 1940.
6 Ibidem, citando a Pastoral Colectiva do Episcopado Português sobre as Comemorações Centenárias da Fundação e Restauração de Portugal, 1940, p. 14.
7 Obs.: a designação de Cruzeiro é mais familiar na terminologia religiosa, aplicando-se a uma coluna em madeira ou pedra, encimada por uma cruz, comumente localizada nos adros das igrejas ou assinalando no, cume de elevações, algum motivo religioso ou outro que importe evocar. Recordemos, por exemplo, o Vale dos Caídos, ou melhor a Abadia da Santa Cruz do Vale dos Caídos, às portas de Madrid, evocando a mortífera batalha ali ocorrida, quase a terminar a Guerra Civil de Espanha, para ocupação da capital pelas tropas franquistas.
8 Existiu, de facto, um pelourinho em Montalvão, como está bem visível num dos debuxos de Duarte D’Armas sobre Montalvão (vista sul), in Livro das Fortalezas e que pode ser visto no portal da Junta de Freguesia de Montalvão (www.jfmontalvao.pt). Estaria localizado no que podemos considerar, aproximadamente, como sendo o extremo do burgo, atual Corredoura. Desconhece-se quando e porquê terá desaparecido.
9 Foi assim, aliás, que o Cardeal Cerejeira (doutorado em Ciências Históricas) apelidou as Comemorações, ou seja, “Comemorações Centenárias”.
10In,http://www.ecivilnet.com/dicionario/o-que-e-folha-de-acanto.html
e também: http://www.arquiteturaclassica.com.br/acanto/
11Uma das três ordens arquitetónicas criadas há milhares de anos pelos gregos (dória, jónica e coríntia), por sinal a mais elaborada e vistosa;
12Desenvolvida pelos romanos, combinando os estilos jónio (baseado na figuração de volutas, no capitel) e coríntio, baseado nas folhas do acanto;
13Cf. Jean Chevalier, «Dicionário de Símbolos», editora José Olympio;
14Ordem Militar de Avis: a mais antiga Ordem militar portuguesa, outrora com a designação de Ordem Militar de S. Bento de Avis, (por estar submetida à egra beneditina) terá sido criada no ano de 1175, por Geraldo Geraldes o” Sem-Pavor” a partir de uma confraria de cavaleiros (a Milícia de Évora) e sob a proteção deD. Afonso Henriques, posteriormente à conquista de Évora (1166). (in (MELO, Olímpio de; Ordens Militares Portuguesas e outras Condecorações, Imprensa Nacional, Lisboa, 1922, p. 41).Foi seu primeiro Mestre, D. Pedro Afonso, filho ilegítimo de D. Afonso Henriques. A Ordem militar beneditina assim fundada, submeteu-se depois à Ordem Militar castelhana de Calatrava, passando a designar-se por Milícia de Évora da Ordem de Calatrava, até 1223, ano em que os freires de Évora se fixaram em Avis, passando a Ordem a designar-se de Avis, ainda assim submetida durante vários anos à Ordem de Calatrava. A partir do reinado de D. Dinis - ele próprio fundador da Ordem de Cristo, em substituição da Templária -, a Ordem de Avis ganhou autonomia em relação à de Calatrava. Após a crise de 1383-1385 e da célebre batalha de Aljubarrota, o entretanto designado Mestre de Avis (D. João, filho ilegítimo de D. Pedro I), foi o vencedor, sendo nomeado rei nas Cortes de Lisboa e aclamado nas ruas pelo povo, iniciando dessa forma o seu frutuoso reinado e, consequentemente, a dinastia de Avis. Sob o nome de D. João I, foi o primeiro monarca português da Casa de Avis.
Para mais informações sobre a Ordem de Avis e ao que a ela está associado, deverá consultar-se, entre outra, a seguinte bibliografia: “BRAGANÇA, José Vicente de; “As Ordens Honoríficas Portuguesas”, in “Museu da Presidência da República”, Museu da P.R. / C.T.T., Lisboa, 2004; “Chancelaria das Ordens Honoríficas Portuguesas; Ordens Honoríficas Portuguesas, Imprensa Nacional, Lisboa, 1968;ESTRELA, Paulo Jorge; “Ordens e Condecorações Portuguesas 1793-1824, Tribuna da História, Lisboa, 2008; MELO, Olímpio de; “Ordens Militares Portuguesas e outras Condecorações”, Imprensa Nacional, Lisboa, 1992.
15Outra versão associa às cinco feridas que D. Afonso Henriques terá sofrida na batalha de Ourique.
A versão da ligação à chagas de Cristo, segundo a lenda está associada ao Milagre de Ourique, segundo a qual, abreviando, antes da célebre Batalha de Ourique (25 julho 1139) Jesus Cristo, crucificado, terá aparecido ao então Conde D. Afonso Henriques, prometendo-lhe a vitória para essa e outras batalhas que se seguiriam, aquém e além-mar, pelos seus descendentes, de modo a propagar o nome de Deus e a fé cristã pelo império assim criado.
Mais conta a lenda que na batalha de Ourique, lutando contra um inimigo muito poderoso, D. Afonso Henriques, ao comando do seu exército, não só dizimou as tropas inimigas, como, antes disso, liquidou os cinco reis mouros do lado inimigo: das taifas de Sevilha; Badajoz; Elvas; Évora e Beja. Em reconhecimento e gratidão a Jesus Cristo, incorporou na sua bandeira ou no seu escudo, sobre uma cruz azul ao centro num fundo branco, cinco pequenos escudos, dispostos em forma de cruz, como atualmente se mantêm.
16Versão discutível esta, na medida em que nos reinados de D. Sancho I, D. Afonso II e D. Sancho II, portanto entre 1185 e 1248, início do primeiro e fim do último, respetivamente, a bandeira ostentava de facto os cinco escudetes dispostos em cruz, mas o interior de cada um deles era formado por mais de cinco besantes, contrariando, portanto, aquela versão. A partir do reinado de D. Afonso III (1149 a 1279) os escudetes já apresentam os cinco besantes.
17Esta associação é igualmente discutível, pois como podemos ver em algumas imagens, a bandeira de D. Afonso III apresentava não sete mas um número superior e variado de castelos (atingindo em alguns casos dezasseis). Em plena governação de D. João II, este monarca, passou a adotar os sete castelos, a partir de 1485.
18É curioso notar que numa das ilustrações criadas para a Exposição do Mundo Português por Almada Negreiros está expressamente inscrita a data de 1139, a par de 1640 e 1940.
19Data igualmente gravada numa das faces da coluna/fuste, imediatamente abaixo da folha do acanto, como referido antes.
20v. ponto 1. Contextualização, no início do texto.
21Para informação mais detalhadaconsultar, entre outras fontes: https://pt.wikipedia.org/wiki/Esfera_armilar; embora não sendo originárias de Portugal, mas da Antiga Grécia, foi adotada por D. Manuel I, como seu brasão de armas, estando igualmente muito associada aos descobrimentos portugueses e ao que a partir deles foi alcançado por Portugal, um incomensurável domínio colonial.
22A Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo originalmente era uma ordem religiosa e militar, criada a 14 de março de 1319 pela bula pontifícia "Ad ea ex-quibus", do Papa João XXII, que, deste modo, atendia aos pedidos do rei D. Dinis, no sentido de substituir, ficando herdeira das propriedades e privilégios da Ordem do Templo, ou Templária, antes perseguida e extinta, em 1314, por imposição do papa Clemente V e rei Filipe IV, o Belo, ambos franceses.
23https://pt.wikipedia.org/wiki/Cruz_da_Ordem_de_Cristo
24Data simbólica, evocativa da comemoração do centenário da Aparição de Nossa Senhora de Fátima aos Pastorinhos, dois dos quais, os Beatos Jacinta e Francisco, neste dia Santificados pelo Papa Francisco I, que se deslocou ao Santuário de Fátima nesta data propositadamente para este efeito.
Índice de fotos (por Luís Gonçalves Gomes)
1 – Cruzeiro – estado atual, após recolocação da Cruz de Cristo.
2 – Vaso (base da coluna; face voltada a Nascente), com a inscrição “III restauração de Portugal”.
3 – Fuste (parte superior; face voltada a Poente), representação da folha do acanto, em alto-relevo e abaixo desta a inscrição “1940”.
4 – Capitel (face voltada a norte), representação da Cruz da Ordem Militar de Avis.
5 – Capitel (face voltada a sul), representação da Cruz da Ordem Militar de Cristo.
6 – Capitel (face voltada a poente), representação do Escudo Português.
7 – Capitel (face voltada a nascente), inscrição das datas centenárias e do ano das comemorações: 1140; 1640 e 1940, respetivamente.
8 – Sobreposta ao capitel, representação da Esfera Armilar.
9 – Sobre a esfera, representação da Cruz de Cristo.
10 – Face superior da Cruz de Cristo, com a inscrição gravada de “Junta de Freguesia de Montalvão” “22-04-2017"