Livro das Fortalezas de Duarte d’Armas (1)
Introdução de Manuel da Silva Castelo Branco – respigo das referências nela feitas a Montalvão
I – História, Dimensão e Significado do “Livro das Fortalezas ou o Livro de Duarte de Armas” (2)
“No começo do séc. XVI (1509), el-rei D. Manuel entregou a Duarte de Armas, hábil debuxador e escudeiro de sua Casa, o encargo de vistoriar as fortalezas, que constituíam a nossa primeira linha defensiva face ao país vizinho, a fim de se inteirar por forma invulgar acerca do seu estado de conservação.
Com efeito, Duarte de Armas, acompanhado por um criado a pé, levou a cabo esta missão, percorrendo a cavalo as distâncias entre a maioria das povoações acasteladas da zona fronteiriça, das quais elaborou inúmeros esboços, em papel, com as suas vistas panorâmicas (pelo menos duas, por cada lugar e tiradas ao natural, focando bandas diferentes) e as plantas das respetivas fortalezas; e, neles, teve a preocupação de apontar as partes mais arruinadas e carenciadas de obras.
Seguidamente e a partir dos elementos recolhidos no seu trabalho de campo, o nosso artista organizou dois volumes”.
No primeiro, o códice B, formado por folhas em papel de linho, teria desenhado 110 cartas panorâmicas, com 296 x 404 mm, de 55 povoações raianas, desde Castro Marim a Caminha (duas diferentes para cada lugar) e as plantas de 51 das respetivas fortalezas. Neste exemplar, as vistas podem considerar-se esboços mais aperfeiçoados do que os preliminares, mas ainda assim imperfeitos por não representarem muitos pormenores relativos ao aspeto das construções e à paisagem onde se achavam integrados. Por isso, todos os desenhos estão recheados de notas interessantes e destinadas, em muitos casos, a suprir lacunas.
No segundo, o códice A, constituído por grandes folhas de pergaminho, Duarte de Armas levantou de modo semelhante o mesmo número de fortalezas, mas”…”Agora, porém, o seu trabalho, mais apurado e completo, vai requintar-se em primorosos detalhes, representando o arvoredo e as culturas, que antes apenas apontara pelos nomes (ex.: olivais, vinha, etc.); a cobertura das casas (em colmo, ardósia ou telha); a estereotomia de paredes, muralhas, aros de portas e janelas, etc., etc. Enfim um trabalho requerendo técnica simples, mas bem adestrada, e …Arte! Só neste exemplar aparecem certos pormenores pitorescos da vida cotidiana: um caçador e os seus três cães (Almeida, NE); um almocreve conduzindo duas mulas carregadas (Castelo Branco, SE); camponesas tirando água de um poço (Montalvão, S); um pastor com o seu rebanho (Monsanto, E), etc., etc. (sublinhado a bold nosso).
Alguns autores supõem que o códice A é uma cópia do anterior (códice B) embora ampliada e mais perfeita, mas, ao confrontá-los, verificamos que as duas vistas correspondentes a cada povoação nem sempre foram tiradas das mesmas bandas, podendo concluir-se que, para certos lugares, Duarte de Armas fez mais de dois esboços preliminares”… (texto transcrito da página 1, (sic).
…”actualmente, o Códice B (3) acha-se incompleto, pois só tem 71 folhas com as vistas de 37 fortalezas, desde Assumar a Caminha, excluindo Montalvão. (sublinhado a bold nosso). Todas apresentam duas bandas diferentes, excepto Assumar, Castelo de Vide e Penamacor (com uma só); a parte restante desapareceu, incluindo as folhas dos índices e a nota introdutória". (in p.3)
Em resumo:
…”O Livro das Fortalezas” confirma a preocupação dos nossos reis (particularmente, D. João II e D. Manuel I) em promoverem e consolidarem a defesa do país face ao vizinho, mesmo quando as relações entre eles eram bastante amistosas”… (in p. 4)
…”Os desenhos de Duarte de Armas têm grande importância artística, arqueológica e cultural, pois o nosso artista não se limitou a representar as fortalezas mas também as povoações em que estas se achavam integradas, dando-nos uma pormenorizada descrição da paisagem urbana, reflexo de uma sociedade organizada.” (in p. 5)
Luís Gonçalves Gomes
11 dezembro 2015