Primeira Guerra Mundial – 1914 a 1918
Homenagem aos Combatentes da Freguesia de Montalvão
Em 2018 comemorou-se por todo o país o centenário do fim de um conflito que tantas vidas devastou ao longo de quatro dolorosos anos, quer para os que combateram diretamente, quer para os que asseguraram a retaguarda, suas famílias e para toda a população, praticamente a nível mundial.
De diferentes formas, todo o Mundo rejubilou com o “Armistício de Compiègne”, assinado em 11 novembro de 1918, entre uma representação dos “países aliados” que combateram e derrotaram a Alemanha, e desta mesma, o qual determinou formalmente o fim da Primeira Guerra Mundial. Porém, só cerca de dois anos mais tarde aquele convénio seria ratificado pelo Tratado de Versalhes. Ratificado, mas não impedindo as sequelas psicológicas nas hostes militares e, de um modo geral, na população alemã, humilhada e ferida no seu orgulho pela derrota sofrida, naturalmente, mas, sobretudo, pelas condições impositivas e termos do Tratado.
Um parêntesis:
Hitler[1], um dos que combateram na guerra pela Alemanha, então como um simples cabo, viria a vingar-se vinte anos mais tarde, já como Chanceler, ao desencadear a Segunda Guerra Mundial. Portugal desta vez ficou excluído, não obstante a maioria das nações ter participado nela, constituindo o grosso das tropas aliadas, contra o chamado Eixo[2]. Esta guerra atingiu proporções muitíssimo maiores do que a de 14-18, quer pela duração, quer pelos territórios em que se desenvolveu (toda a Europa, Norte de África, Ásia e ilhas do oceano Pacífico). Duraria seis horrorosos anos, entre 1 setembro de 1939 e, curiosamente, 1 setembro de 1945, muito embora as últimas operações militares desenroladas na Europa tivessem cessado antes, entre o final de abril e princípios de maio de 1945, com a consequente rendição alemã. Como é sabido, terminada a guerra na Europa e na África, e com a Alemanha e a Itália[3] já rendidas, prolongar-se-ia ainda na Ásia e no Pacífico, mas agora apenas entre os Aliados e o terceiro parceiro do Eixo, o Japão. Esta viria a terminar definitivamente com os terríveis bombardeamentos atómicos que arrasaram Hiroxima e Nagasaki e a subsequente rendição do Japão.
Por mera curiosidade, a assinatura do Armistício da Guerra de 14-18, decorreu no interior de um vagão-restaurante estacionado propositadamente para o acto na floresta de Compiègne, nas proximidaes de Paris, e que deu nome àquela convenção de paz. Ainda por curiosidade, anos mais tarde, a mesma carruagem foi palco de uma cerimónia semelhante, mas desta vez com inversão de papéis, ou seja, a assinatura do “Segundo Armistício de Compiègne”, em 22 junho de 1940, em Rethondes. Por este segundo convénio, realizado em plena II Guerra Mundial, estando esta ainda longe de terminar, pois duraria mais cinco anos, e já com o território francês ocupado, uma representação do Terceiro Reich Alemão, liderada pelo próprio Hitler (que apenas assistiria à chegada da delegação francesa [4]) e outra da República da França, presidida pelo general Charles Huntziger e pelo embaixador Léon Noël, assinariam os termos do cessar fogo entre os dois países beligerantes, estabelecendo as condições da ocupação do território francês pelos alemães. A França ficaria então dividida em duas zonas: a "ocupada", incluindo Paris, e a “livre” - a França de Vichy (colaboracionista dos alemães), presidida pelo Marechal Pétain, de muito má memória para os franceses.
Mas a que vem a propósito a referência àquele episódio da Segunda Guerra Mundial e qual a sua relação com a anterior, de 1914-18? É que para os alemães a inapelável derrota nesta guerra e as consequências do primeiro Armistício de Compiègne e do Tratado de Versalhes, foram consideradas absolutamente humilhantes. Entre os que assim pensavam encontrava-se o seu atual Führer e antigo combatente naquela guerra, como referido antes. Hitler vingar-se-ia dessa humilhação escolhendo e fazendo deslocar a “carruagem dos armistícios” para o acto de assinatura do “Segundo Armistício de Compiègne”. Fraca compensação, dir-se-ia, face à derrota que cinco anos mais tarde os Aliados (os mesmos de então e outros que se lhes juntaram) infligiriam à Alemanha e aos restantes países do Eixo.
(v. a reportagem fotográfica à margem deste texto, obtida a partir da série de documentários emitida pela RTP2, sob o título "Apocalipse-A segunda Guerra Mundial", créditos apresentados nas fotos finais, cuja sofrível qualidade resulta de terem sido obtidas através das imagens televisivas. Hitler, como se disse atrás, apenas participou na receção inicial à delegação francesa e, imediatamente após as saudações iniciais e a leitura de uma declaração por um oficial alemão, abandonou a carruagem, na qual permaneceram apenas os negociadores. No entanto, como as imagens anexas nos mostram, criou uma encenação propositada para humilhar os franceses. Sentir-se-ia assim vingado da humilhação sofrida pela Alemanha cerca de 20 anos antes. Findo o acto, a carruagem foi, de pronto, rebocada até Berlim, onde seria eliminada pelo fogo, para que não restagem vestígios da primitiva humilhação).
Voltando à I Guerra Mundial e ao contrário do que aconteceu na Segunda, Portugal foi um dos países participantes, pelo lado dos Aliados. Participação muito controversa, aliás, por diferentes motivos, como procuraremos explicar no texto agregado a esta apresentação, na banda direita deste item.
Participando Portugal, foram os jovens de então massivamente mobilizados à pressa [5], “marchando” maioritariamente para as trincheiras da Flandres (França e Bélgica), entre outros teatros de operações em que a guerra decorreu, sem a devida preparação e deficientemente equipados. A Freguesia de Montalvão teve obrigatoriamente de contribuir com a sua quota parte de mancebos.
A Associação Recreativa e Cultural de Montalvão “ Vamos à Vila”, com o patrocínio da Junta de Freguesia de Montalvão, promoveu em 2018 uma homenagem aos combatentes de Montalvão na I Guerra Mundial, através da colocação de uma placa alusiva, em local escolhido na Praça da República, em Montalvão, e da publicação do livro “A Grande Guerra, 1914-1918, Os Combatentes da Freguesia de Montalvão”, de Ana Maria Paiva Morão, Ed. Colibri / Associação Vamos à Vila, Montalvão, 2018, cuja consulta se sugere para cabal identificação sobre a presença de conterrâneos naquela guerra, felizmente, dela tendo regressado todos vivos,ao que se sabe.
Luís Gonçalves Gomes
4 outubro 2020.
Fontes bibliográficas:
1 – FERREIRA, João José Brandão (Tenente-coronel Piloto Aviador), artigo in Revista Militar, “Portugal na I Guerra Mundial”, Revista n.º 2553 de outubro 2014;
2 –Cf notas de rodapé e informação geral não especificada.
[1]Adolf Hitler líder do Partido Nacional-Socialista da Alemanha, entre 1934 e 1945, ano em que, não resistindo à derrota infligida em todas as frentes da II Guerra Mundial pelas tropas aliadas, se suicidou conjuntamente com a amante Eva Braun, no seu bunker de Berlim, já com as tropas vitoriosas russas naquela cidade. Foi Chanceler do Reich e Führer da Alemanha Nazi durante aqueles onze anos negros da história Alemã e Mundial.
[2]EIXO – designação abreviada para a aliança formada entre a Alemanha (Nazi ou Nacional-Socialista), a Itália (Fascista) e o Japão (Monarquia absolutista), as chamadas Potências do Eixo. O Pacto que celebraram entre si, “Pacto Anticomitern”, no essencial, consistia num convénio anticomunista, tornando-se mais tarde na aliança militar entre aqueles que combateram na II Guerra Mundial, contra os Aliados ocidentais. O fim da guerra determinou a inevitável dissolução do Eixo, tanto mais que os principais líderes da Alemanha e Itália já não se encontravam no mundo dos vivos.
[3] Itália, na época era um regime fascista que acabou derrotado pelas tropas americanas ao ocuparem a capital Roma em junho de 1944, um ano antes da rendição do seu aliado alemão. O seu líder Benito Mussolini, também juntamente com a sua amante Clara Petacci, acabariam aprisionados pela resistência italiana – os “partigiani” -, quando tentavam escapar-se para a Suíça neutral, sendo mortos e expostos numa praça pública, suspensos pelos pés.
[4] Participaram na assinatura do Armistício, pelos Aliados: o capitão britânico Ernst Vanselow, o primeiro marinheiro almirante Rosslyn Wemyss - representante britânicos -, o general francês Maxime Weygand e o marechal Ferdinand Foch - representaes franceses -; e pela Alemanha: Matthias Erzberger e o conde Alfred von Oberndorff.
[5] "Da calma medieva de um Portugal profundo, foram desarraigados homens humildes. Ao engano, mandaram-nos para o terror da Flandres. A I Guerra Mundial haveria de mudar as suas vidas para sempre! A ferro e fogo, fustigados pelo frio, pela fome e pela doença, mas sobretudo pela metralha dos boches, viveram momentos únicos - terríveis - no abrigo, no hospital, no cativeiro e na trincha: Desprezados pela pátria, ingrata, que afinal amavam, estes soldados reclamam, justamente, preitos de admiraç ão, de reconhecimento e de saudade!... in "A Saga de um Combatente na I Guerra Mundial - de Chaves a Copenhaga", de Gil Manuel Morgado dos Santos e Gil Filipe Calvão Santos, Edição Âncora editora e Fvp-Fundação vox populi, 2ª edição novembro 2014 excerto do texto da contracapa.